quinta-feira, 16 de julho de 2020

Romantismo

Na época do Romantismo a sociedade estava marcada por um novo público consumidor, de origem burguesa, não mais aceitando os padrões que indicavam uma concepção estática do mundo.
Este novo momento da sociedade brasileira dita novos valores como o apego às tradições nacionais, o gosto pelas lendas e pelas narrativas de origem medieval e pelo heroísmo, o sacrifício e sangue derramado, que evocavam o recente passado revolucionário e a afirmação das nacionalidade.
A História do Brasil tem marcas profundas do período do Romantismo na política e na literatura.

As Características do Romantismo

  • Idealização da mulher e do índio
  • Sentimentalismo
  • Nacionalismo
  • Religiosidade
  • Liberdade formal

Os autores clássicos do Romantismo

Os poemas de Castro Alves e de Casemiro de Abreu, com uma forte crítica à escravidão e ao poder absoluto mostram narrativas de crítica social. Outros poetas cantaram o amor, a liberdade e a saudade.
Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, José de Alencar, Álvares de Azevedo, Gonçalves de Magalhães, Fagundes Varela e Manoel Antônio de Almeida também estão entre os destaques do Romantismo.
No Brasil, o Romantismo, iniciado com a obra Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, reveste-se de um marcante conteúdo nacionalista e de exaltação dos elementos nacionais, pois corresponde ao nosso momento de luta pela emancipação política e de afirmação da nossa nacionalidade. Veja estes versos de Suspiros Poéticos e Saudades:
Tu és tudo, oh Poesia!
Tu estás na paz, e na guerra,
Nos céus, nos astros, na terra,
No mar, na noite, no dia!
Tu és a inocência,
E o riso da infância,
Do velho a prudência,
Do moço o vigor,
Do herói a clemência,
Do amor a constância,
Da bela o pudor

Contexto histórico do Romantismo na Europa e no Brasil

Após a Revolução Francesa (1789-1799), o absolutismo (monarquia) entra em crise, dando lugar ao liberalismo, que é a doutrina fundamentada na crença da capacidade individual do homem, segundo a qual o Estado não deve intervir nas relações econômicas que existem entre indivíduos, classes ou nações.
A vinda da Família Real para o Brasil (1808) possibilitou um marcante avanço cultural. Já a Proclamação da Independência (1822) e as revoluções (como a Sabinada, por exemplo), mostram claramente o desejo de liberdade que vai invadir o mundo da época. Veja aqui uma aula gratuita sobre 1808 – A chegada da Família Real de Portugal no Brasil. Muita coisa mudou por aqui. Confira.

As Gerações do Romantismo

Poesia Romântica – A poesia do Romantismo brasileiro pode ser, didaticamente, dividida em três gerações:

1ª GERAÇÃO: Marcadamente nacionalista, lançou as bases teóricas do Romantismo, voltando-se para as raízes nacionais e apresentando o índio como herói do passado recente.

Autores e Obras principais do Romantismo

  • Gonçalves de Magalhães: nasceu em Niterói (1811) e morreu em Roma (1882). Sua importância advém do fato de ter sido o introdutor do Romantismo no Brasil, com a obra Suspiros Poéticos e Saudades. Este é um livro de poesias que se sustentam no tripé formado por Deuspátria e coração.
  • Gonçalves Dias:
  • O poeta da Canção do Exílio nasceu no Maranhão (1823) e morreu na Costa Maranhense (1864). O poeta é responsável pela consolidação do Romantismo no Brasil. De fato, ele trabalhou todos os temas iniciais do Romantismo, como o indianismo, a natureza pátria, a religiosidade e o sentimentalismo.

É dele a famosa Canção do Exílio. Veja estes versos:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

A 2ª Geração do Romantismo:

Também conhecida como ultrarromântica ou byronista, é a geração do mal do século (desejo de morte). Caracteriza-se pelo egocentrismo e sentimentalismo extremos, pelo escapismo (expresso na idealização, na busca da solidão, da noite e da morte), no tédio e no pessimismo exagerado.
Autores e Obras
  • Álvares de Azevedo: nasceu em São Paulo e morreu no Rio de Janeiro. É considerado o mais importante poeta do Ultrarromantismo brasileiro. Ao morrer, com apenas 21 anos, deixou inédita toda sua obra, que começou a ser publicada no ano seguinte ao da sua morte. Seus mais famosos livros são Lira dos vinte anos (poesia) e Noite na taverna (conto). São características importantes de sua obra:
a. evasão na fantasia e no sonho;
b. devoção pela noite e por ambientes lúgubres e sombrios;
c. evasão na morte;
d. conceito de amor que oscila entre a idealização e a sensualidade;
e. sentimento de autodestruição.
Veja, a seguir, versos do poema Se eu morresse amanhã, de Álvares de Azevedo:
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
 Obras de Álvares de Azevedo:
Poesia: Lira dos Vinte Anos (1853); O Conde Lopo (1866).
ContoNoite na Taverna (1855).
TeatroMacário (1855).

Veja agora Casimiro de Abreu

  • Casimiro de Abreu: nasceu e morreu no Rio de Janeiro (1839-1860). Assim como Álvares de Azevedo, também prefere o tema morte, e como Gonçalves Dias, faz poesias com saudades da Pátria. Sua produção poética é vasta, e está reunida em um volume chamado As primaveras, cujo poema mais popular é Meus oito anos. Vamos ver um fragmento:
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
  • Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[…]
  • Obras de Casimiro de Abreu
Poesia: As Primaveras (1859).
Teatro: Camões e o jau (1856).
  • Fagundes Varela: nasceu e morreu no Rio de Janeiro (1841-1875). É considerado um poeta de transição, pois anunciou os primeiros acordes do condoreirismo. Sua obra pode ser dividida em duas partes. Na primeira se misturam o mal do século, o patriotismo, a luta abolicionista, a natureza e a morte. A segunda se caracteriza pelo misticismo religioso, decorrente de uma série de perdas: a morte de dois filhos, da esposa e da maior parte dos amigos, inclusive Castro Alves.
  • Obras de Fagundes Varela
Poesia: Noturnos (1861); O Estandarte Auriverde (1863); Vozes d’América (1864); Cantos meridionais (1869); Cantos religiosos (1878)

3ª GERAÇÃO DO ROMANTISMO:

É conhecida como condoreira (inspirada no voo do Condor, altos voos), e é caracterizada pela poesia social libertária, refletindo as lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II. Castro Alves é o poeta mais representativo da poesia de caráter social.
Castro Alves – Veja as principais obras:
  • Castro Alves: nasceu e morreu na Bahia (1847-1871). É o poeta da liberdade, denunciando desigualdades sociais, lutando sempre a favor dos oprimidos. Sua denúncia da problemática da escravidão fez com que fosse denominado o poeta dos escravos.
  • Além dessa poesia voltada para o social, Castro Alves destaca-se como autor de poemas lírico-amorosos em que o amor e a mulher são menos idealizados. Entre suas obras, destaca-se Espumas Flutuantes (1870).
  • Seu poema mais famoso é Navio Negreiro, no qual ele descreve as condições em que os negros eram transportados e manifesta sua indignação contra o tráfico de escravos.

    Negros no fundo do porão de navio (1835).
    • Obras de Castro Alves:
    Poesia: Espumas Flutuantes (1870); A Cachoeira de Paulo Afonso (1876); Os Escravos (1883).
    Teatro: Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875) – drama histórico

    Veja estes versos de Navio Negreiro:

    Era um sonho dantesco… o tombadilho
    Que das luzernas avermelha o brilho.
    Em sangue a se banhar.
    Tinir de ferros… estalar de açoite…
    Legiões de homens negros como a noite,
    Horrendos a dançar…
    Negras mulheres, suspendendo às tetas
    Magras crianças, cujas bocas pretas
    Rega o sangue das mães:
    Outras moças, mas nuas e espantadas,
    No turbilhão de espectros arrastadas,
    Em ânsia e mágoa vãs!
    E ri-se a orquestra irônica, estridente…
    E da ronda fantástica a serpente
    Faz doudas espirais …
    Se o velho arqueja, se no chão resvala,
    Ouvem-se gritos… o chicote estala.
    E voam mais e mais…
    Presa nos elos de uma só cadeia,
    A multidão faminta cambaleia,
    E chora e dança ali!
    Um de raiva delira, outro enlouquece,
    Outro, que martírios embrutece,
    Cantando, geme e ri!
    No entanto o capitão manda a manobra,
    E após fitando o céu que se desdobra,
    Tão puro sobre o mar,
    Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
    “Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
    Fazei-os mais dançar!…”

    RESPONDAS QUESTÕES NO FORMULÁRIO, ATÉ DIA 26, VALENDO 2 PONTOS CADA QUESTÃO CERTA


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    Artigo de Opinião

    Artigo de opinião



    O artigo de opinião é um gênero argumentativo típico de jornais, revistas e blogs. Alguns vestibulares também solicitam a produção desse tipo de texto.


    O artigo de opinião é um dos gêneros mais comuns no cotidiano das cidades. Publicado normalmente em jornais, revistas e blogs, esse tipo de texto tem como função apresentar e defender um ponto de vista sobre algum assunto relevante para a sociedade. Muitas faculdades e universidades costumam solicitar aos seus candidatos que produzam artigos de opinião em seus vestibulares.

    Características

    O artigo de opinião é um gênero argumentativo, ou seja, é um tipo de texto que defende um ponto de vista por meio de argumentos. A linguagem usada no artigo de opinião costuma alinhar-se à norma-padrão da língua portuguesa, haja vista que o texto deve ser compreendido por diversos tipos de pessoas, muitas vezes de regiões completamente distintas — como é o caso dos artigos publicados em jornais de alcance nacional no Brasil.
    Para além disso, justamente por se tratar de uma publicação da imprensa, o assunto abordado nesse tipo de texto costuma ser de relevância coletiva: fatos importantes, ocorridos nos dias ou semanas anteriores, costumam ser os temas do artigo de opinião. Nesse sentido, o gênero tem uma função social clara: promover o debate público sobre as demandas da sociedade.

    Estrutura

    Por ser um texto argumentativo, o artigo de opinião apresenta três partes fundamentais:
    • Introdução com tese
    Os parágrafos iniciais de um artigo de opinião costumam ser reservados para apresentar o assunto abordado e, além disso, o ponto de vista defendido pelo autor. Chamamos esse ponto de vista de tese. No caso das redações escolares e propostas de vestibulares, é comum que somente o primeiro parágrafo da composição seja destinado para essa função, pois, nesse tipo de produção textual, o número de linhas é restrito.
    Veja, a seguir, a introdução de um artigo de opinião produzido por Débora Diniz e Giselle Carino, publicado no jornal El País Brasil:
    Violência obstétrica,
    uma forma de desumanização das mulheres
    A expressão 'violência obstétrica' ofende médicos. Dizem não existir o fenômeno, mas casos isolados de imperícia ou negligência médicas. O que aconteceu com a brasileira Adelir Gomes, grávida e forçada pela equipe de saúde a realizar uma cesárea contra sua vontade, dizem ser um caso extremo, escandalizado pelas feministas como de violência obstétrica. Não é verdade. A violência obstétrica manifesta-se de várias formas no ciclo de vida reprodutiva das mulheres. Em cada mulher insultada verbalmente porque sente dor no momento do parto ou quando não lhe oferecem analgesia. Na violência sexual sofrida em atendimento pré-natal ou em clínicas de reprodução assistida. No uso de fórceps, na proibição de doulas ou pessoas de confiança na sala de parto. Na cesárea como indicação médica para o parto seguro. A verdade é que a violência obstétrica é uma forma de desumanização das mulheres.
    Jornal El País Brasil, 20 de março de 2019.
    É notável, nesse trecho inicial do texto, a presença das duas partes fundamentais da introdução de um artigo de opinião: a apresentação do tema — “violência obstetrícia” — e a defesa de uma tese ou ponto de vista — “A verdade é que a violência obstétrica é uma forma de desumanização das mulheres”.
    • Desenvolvimento com argumentação
    Uma vez que a tese é apresentada na introdução do artigo de opinião, é esperado que, nos parágrafos intermediários — também chamados de desenvolvimento —, apresentem-se argumentos que comprovem o ponto de vista.
    Um argumento costuma ter duas partes: a fundamentação e a análise do fundamento. A primeira corresponde às informações, fatos, dados, referências, entre outros, que o articulista busca para embasar sua opinião; a segunda, ao trecho em que o autor relaciona explicitamente o fundamento utilizado com a tese defendida.
    Ainda seguindo o exemplo dado anteriormente, observe a seguir um dos argumentos usados pelas articulistas Débora Diniz e Giselle Carino:
    Mulheres negras, indígenas e com deficiência estão entre as mais vulneráveis à violência obstétrica. Um estudo da Universidade de Harvard, realizado em quatro países latino-americanos, mostrou que uma em cada quatro mulheres vivendo com HIV/aids foi pressionada à esterilização após receber o diagnóstico. Evidências igualmente assustadoras foram identificadas no México, onde a Organização das Nações Unidas condenou o país pela esterilização forçada de quatorze indígenas pelo sistema de saúde público. No Brasil, um estudo no Mato Grosso descreveu a correlação entre etnia e morte materna — mulheres indígenas têm quase seis vezes mais chances de morrer no parto que mulheres brancas. Pouco sabemos da realidade de mulheres com deficiência, em particular daquelas com deficiência intelectual. O senso comum diz que devem viver sem sexualidade e que são incapazes de decidir suas vivências reprodutivas.
    Jornal El País Brasil, 20 de março de 2019.
    Nesse caso, são usados como fundamentos: um estudo da Universidade de Harvard, outro da Organização das Nações Unidas e mais um feito no Mato Grosso. Com base nessas pesquisas, as articulistas relacionam as informações citadas com a tese ao afirmarem que “Pouco sabemos da realidade de mulheres com deficiência, em particular daquelas com deficiência intelectual. O senso comum diz que devem viver sem sexualidade e que são incapazes de decidir suas vivências reprodutivas”.
    • Conclusão
    A conclusão de um artigo de opinião costuma apresentar uma síntese do desenvolvimento do texto e, em seguida, reiterar a tese, agora comprovada pelos argumentos. Veja como é a conclusão do texto de Débora Diniz e Giselle Carino:
    Argentina e Bolívia também avançaram em legislações para proibir a violência obstétrica — estar livre de violência baseada em gênero deve incluir a violência obstétrica. É preciso avançar rapidamente neste campo, seja pela via legal ou pela transformação dos costumes e práticas. A legislação boliviana menciona 'violência contra os direitos reprodutivos': se devidamente interpretada, a criminalização do aborto ou os maus-tratos sofridos pelas mulheres em processo de abortamento nos hospitais são formas de violência obstétrica. Meninas e mulheres forçadas, involuntariamente, ao parto e à maternidade são casos de violência obstétrica. Por isso, às histórias de dor física ou abusos verbais de nossas mães e avós, devemos somar as histórias da clandestinidade do aborto — as leis restritivas de aborto atingem 97% das mulheres em idade reprodutiva na América Latina e Caribe. Todas essas são expressões da violência obstétrica, uma forma silenciosa e perene de violência baseada em gênero.
    Jornal El País Brasil, 20 de março de 2019.
    É perceptível, portanto, que a conclusão do artigo de opinião das autoras repete resumidamente a linha argumentativa desenvolvida no texto. Em seguida, a tese é reiterada, agora comprovada — “Todas essas são expressões da violência obstétrica, uma forma silenciosa e perene de violência baseada em gênero”.

    Como começar o artigo de opinião

    A melhor maneira de começar um artigo de opinião é, antes de tudo, desenvolvendo um planejamento e um projeto de texto. Planejando e projetando antes de escrever, é muito provável que a composição resulte-se clara, coerente e bem fundamentada. Veja, no próximo tópico, um passo a passo de como escrever o artigo de opinião.

    Passo a passo

    Podemos dividir o processo de produção de texto em três partes básicas:
    • Planejamento e projeto de texto
    O primeiro passo na composição textual deve ser o da reflexão, leitura e organização das ideias a serem desenvolvidas no texto. Nessa parte, é necessário que o autor do artigo de opinião defina:
    • Tema;
    • Tese;
    • Fundamentos da argumentação;
    • Organização lógica do texto (aqui, define-se o que deve haver em cada parágrafo, ou seja, qual será a trajetória discursiva usada pelo autor para defender seu ponto de vista no texto).
    • Rascunho
    Uma vez que o projeto de texto já estiver definido, é o momento de transcrever as ideias projetadas na forma de texto em prosa, ou seja, é a hora de escrever o texto na forma de: parágrafos introdutórios, desenvolvimento e de conclusão. É muito importante que o rascunho seja um produto do projeto de texto e não se desvie da trajetória discursiva planejada.
    • Revisão
    Por fim, após o texto estar praticamente pronto, resta revisar questões de ordem gramatical, como ortografia, acentuação ou pontuação. Assim como no rascunho, não é aconselhável que o autor mude informações previamente projetadas e desenvolvidas nas partes anteriores.
    Exemplo
    Veja, a seguir, mais um exemplo de artigo de opinião, dessa vez do médico Dráuzio Varella:
    Cadeias e demagogia
    O sistema prisional talvez seja a área da administração em que os políticos mais falam e fazem besteiras.
    Frases como "lugar de bandido é na cadeia", "tem que acabar com benefícios que encurtam penas", "vamos reduzir a maioridade penal" e, principalmente, "preso precisa trabalhar para pagar os custos da prisão" soam como música aos ouvidos da sociedade acuada pela violência.
    É compreensível que a maioria esteja de acordo com essas propostas. Dos que se candidatam para governar os estados e o país, entretanto, esperaríamos mais responsabilidade para não criar expectativas fantasiosas e evitar políticas inexequíveis num campo tão sensível.
    Antes que os "idiotas da internet" tirem conclusões apressadas, deixo claro que não gosto nem sou defensor de bandidos, que também quero ver preso o assaltante que rouba e mata e que, em caso de conflito violento entre bandidos e policiais ou agentes penitenciários, só não fico do lado dos agentes da lei se estes também forem criminosos.
    Em 1989, quando comecei a atender doentes nas cadeias, havia no Brasil cerca de 90 mil presos. Hoje, temos ao redor de 800 mil, a terceira população carcerária do mundo. Não é verdade que prendemos pouco. O problema é que mandamos para trás das grades pequenos contraventores e deixamos em liberdade facínoras com dezenas de mortes nas costas.
    Como nos últimos 30 anos encarceramos quase nove vezes mais, e as cidades brasileiras tornaram-se muito mais perigosas, não é preciso ser criminalista com pós-graduação na Sorbonne para concluir: prender tira o ladrão da rua, mas não reduz a violência urbana.
    A pior consequência do aprisionamento em massa é a superpopulação. Os que não aceitam o argumento de que a pena de um condenado deve ser a privação da liberdade, não a imposição de condições desumanas, precisam entender que o castigo das celas apinhadas tem consequências graves para quem está do lado de fora.
    Quando trancamos 30 homens num xadrez com capacidade para receber menos da metade, como acontece nos Centros de Detenção Provisória de São Paulo e em quase todos os presídios do país, os agentes penitenciários perdem a condição de garantir a segurança no interior das celas.
    Como o poder é um espaço arbitrário que jamais fica vazio, o crime organizado assume o controle e impõe suas leis.
    Diante dessa realidade, uma autoridade vir a público para dizer que fará os presos trabalharem para compensar os gastos do Estado é piada de mau gosto. Primeiro, porque na construção das cadeias de hoje não foram projetados espaços para postos de trabalho; depois, porque é impossível trabalhar onde não existe emprego.
    Desde o antigo Carandiru, ouço diretores de presídios reclamarem da falta de empresas dispostas a instalar oficinas nas dependências das cadeias, a despeito das vantagens financeiras e tributárias que o governo oferece. Quer dizer, negamos acesso ao trabalho e nos queixamos que os vagabundos consomem nosso dinheiro na ociosidade.
    Embora tenha conhecido detentos que se vangloriaram de nunca ter trabalhado, eles são exceções. O que a sociedade não sabe é que os presos são os principais interessados em cumprir pena trabalhando: ajuda a passar as horas que se arrastam em dias intermináveis, permite cobrir os gastos pessoais, enviar dinheiro para a família e usufruir o benefício da lei que reduz um dia de condenação para cada três dias trabalhados.
    A questão prisional é muito grave para ficar nas mãos de aprendizes de feiticeiro sem noção da complexidade do sistema penitenciário, que repetem platitudes com ares de grande sabedoria e põem em prática medidas simplistas sem ouvir os que estão em contato diário com os encarcerados, nem os estudiosos do problema.
    A era das facções que comandam o crime de dentro dos presídios, capazes de dar ordens para vandalizar cidades, disseminar a violência pelo país inteiro e estabelecer conexões internacionais, requer dirigentes com experiência em segurança pública, que conheçam as condições de funcionamento das cadeias brasileiras.
    O combate ao crime organizado exige inteligência, entrosamento entre as polícias, centralização das informações num cadastro nacional, simplificação da burocracia e, acima de tudo, coragem do Judiciário para criar penas alternativas que reduzam a população carcerária. Palpites demagógicos de políticos despreparados são dispensáveis.
    Jornal Folha de São Paulo, 03 de fevereiro de 2019.

    Romantismo

    Na época do Romantismo a sociedade estava marcada por um novo público consumidor, de origem burguesa, não mais aceitando os padrões que ind...